
UHF cantam contra abandonodo santuário do Cabo Espichel
Vocalista da banda pensa até compor uma canção para "abanar" poder políticoAntónio Manuel Ribeiro, o vocalista da banda UHF, admitiu vir a compor uma música dedicada à degradação e abandono em que o Cabo Espichel, em Sesimbra, mergulhou nas últimas décadas. O líder do grupo que vai ser cabeça de cartaz no festival de música, que sexta-feira decorre no recinto, numa acção de solidariedade para denunciar o estado a que chegou o santuário, revelou nunca ter pensado nessa hipótese, mas questionado ontem pelo DN referiu que uma canção dedicada à causa "pode ajudar a dar uma safanão no poder político."
"É capaz de ser uma boa ideia. Vamos ver como decorre o festival e como é a adesão das pessoas e depois pensamos nisso", garantiu, após ter mostrado a sua angústia pela degradação acumulada no santuário onde namorou, escreveu e fez a sessão fotográfica pa- ra a capa de Noites Negras de Azul, o álbum dos UHF editado em 1988.
Nenhuma das bandas presentes no festival vai cobrar, justificando António Manuel Ribeiro tratar-se de um daqueles espectáculos de solidariedade em que os UHF tinham "o dever" de estar presentes. Aliás, o músico lamentou que outras bandas de maior projecção nacional, também convidadas, tenham ficado de fora. "Nestas coisas devíamos ter mais responsabilidade", alertou, questionando "como é possível deixar um marco histórico da arquitectura chegar a tremenda degradação e estarmos a assistir à sua vandalização?"
E não faltam exemplos no terreno para sublinhar esta afirmação. O roubo da imagem de Santo António, avaliada em mais de 15 mil euros, do interior da própria igreja, em Abril de 2009, foi o caso mais gritante do abandono a que o local tem estado votado, sendo que já este ano o cruzeiro de granito no adro do santuário apareceu destruído. O posto de transformação de electricidade foi assaltado, para roubo de cobre, e os projectores de luz instalados pela autarquia desaparecem com frequência.
Foi para tentar combater a dura realidade, que se avoluma desde 1925, que um grupo de 20 cidadãos, maioritariamente formado por elementos ligados à cultura, avançou com um projecto integrado nas comemorações dos 600 anos do Cabo Espichel, onde se inscreve o festival de música de sexta-feira. O fotógrafo de Sesimbra Carlos Sargedas, promotor do evento, acredita que as canções poderão funcionar como um "grito de alerta", que leve o Estado a devolver a ala que detém à confraria ou à autarquia viabilizando uma eventual operação capaz de recuperar aquele património.
O conjunto arquitectónico do chamado Santuário de Nossa Senhora da Pedra Mua inclui várias edificações como a antiga Ermida da Memória e a igreja seiscentista.
2 comentários:
Parabén por esta iniciativa.
Infelizmente esta é a realidade que entra pelos olhos de quem visita o cabo Espichel, degradação, abandono e vandalismo.
Ainda bem que há gente a levantar a voz, pode ser que a denúncia feita a cantar chegue rápidamente às "orelhas moucas" da política.
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